terça-feira, fevereiro 07, 2006

Uma Visão sobre a Disciplina na Escola.

Quando se tomam medidas alegadamente para reforçar a disciplina pergunto-me se se terá feito uma reflexão sobre as causas mais profundas da indisciplina. Castiga-se o «mau comportamento», a falta de respeito, as provocações, que afinal são sinais exteriores de algo que vai mal na interioridade emocional e afectiva dos alunos. A indisciplina dos estudantes nas escolas decorre, na maioria dos casos, de um descontentamento em relação a si próprios e em relação aos outros. A ajuda efectiva e «afectiva» que poderia vir do professor não se concretiza, muitas vezes, por falta de condições. Esse descontentamento nem sempre tem origem na escola e provoca uma desvalorização do «eu» que vai reflectir-se na relação com o ambiente envolvente. Há que reparar na estrutura do habitat escolar e perguntar se nela há lugar para uma efectiva relação humana; se a densidade populacional existente e a organização horária dos trabalhos estimula o convívio e o diálogo na resolução de conflitos. Assentar a disciplina na escola sobretudo na burocratização de processos disciplinares, através da categorização das faltas, e nas correspondentes sanções é privilegiar um modelo repressivo. Defendo um sistema que promova a responsabilidade do indivíduo perante a comunidade. Cada um tem o direito de se constituir como elemento activo na organização dessa comunidade, na elaboração das normas pelas quais ela tem de se reger. O fim último dessas normas é o respeito e o bem-estar de todos, tanto no convívio como no trabalho. O não cumprimento das normas estabelecidas impõe, naturalmente, uma análise das motivações e das consequências dos actos cometidos, tentando ultrapassá-las ou penalizá-las numa perspectiva de defesa dos valores humanos. Gostaria de referir um outro foco que também pode provocar indisciplina. Na escola, nem sempre está associado o prazer à actividade proposta. Quando digo prazer não excluo o esforço que lhe está ligado. A diferença está em despendermos esforço numa acção de que se gosta ou, pelo contrário, se detesta. Não se trata de só fazer aquilo de que se goste - mas do que tem significado para o sujeito e que constituirá caminho para a elaboração de novas ideias e de novos conhecimentos. Não é com reorganizações curriculares nem com reforços disciplinares, nem com aulas de cinquenta ou noventa minutos, que construímos uma escola que através da sua paisagem urbanística e do fervilhar de um trabalho assente na expressão, na comunicação, na arte e na ciência, faculte a todos os humanos que nela cresçam "o prazer de escrita"